quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Amarga Lembrança

Olá amigos! Hoje estou postando um texto que fiz para o colégio. Ele é um conto de uma senhora que sofre Mal de Alzheimer e conversa com o leitor nos seus últimos minutos de vida.  


 Amarga lembrança...


  Quando nada mais importa, descobrimos o valor que damos a cada coisa, o sentido exato daquela caixa de música ou da lembrança mais remota da infância, que teima em voltar cada vez mais nítida.
  A quem estou enganando? Sendo sincera, estou perdendo os meus pensamentos e já não consigo me lembrar. Aquela caixa me trás uma lembrança, acho que da minha infância, mas qual será?
  Paro e penso. Penso e paro. Passado, presente e futuro. Passado, passado, passado... Lembranças do passado, de algum possível passado e sendo mais recíproca, de um passado que não me lembro.
  Lembranças vão e vem, lembranças aparecem, lembranças desaparecem. Opa! Já não me lembro mais.
  Acho que é oitenta... Não! É setenta, ou será sessenta e sete?
  Qual idade tenho? Qual o nome desta doença? Tenho filhos? Tenho irmãos? Eu tenho alguém? Aliás, do que eu estava falando? Ei, leitor, não desista de mim, eu só tenho à você. Não vá embora. Não pare de ler... Espera, quem é você?
  Penso, penso, penso... Me lembrei! Rapidamente uma brusca imagem de dentro da caixinha de música surge em meus pensamentos. Sou jovem, estou brincando no parque e... O que foi? Por que está me olhando assim? O que eu estava falando?
 Estou em um quarto branco, sem nada e sem ninguém. Estou deitada e já não tenho forças para me mover.  Preciso de ajuda. Será esse o fim? Espera! Quem é você? Por que está me olhando dessa forma? Ah, como estou sendo grosseira, me desculpe... Prazer, Nilza! Não! É Magali. Ou será Joana? Já não me lembro mais.
  Veja as minhas mãos, todas enrrugadas. Veja os meus pés, todos inchados. Veja meu cabelo, todo branco... Como minha pele ficou tão flácida? Como essas rugas foram aparecer em meu rosto? Essa sou eu? Sou uma velha e não tenho a ninguém.
  Penso, penso, penso... Ah sim! Sou jovem... O que? Quem é você? O que está fazendo aqui? Já não me lembro mais...
  Respiro, suspiro e com muita dificuldade tento me virar. Não consigo.
  Penso, penso, penso... Me lembrei! Sou, sou, sou...
  Meu peito, com muita dificuldade, está pulsando e a minha respiração se enfraquecendo... É o fim! Já não respiro mais, já não me movimento mais. Estou endurecendo e minha alma já se foi... A música da caixinha se acabou e infelizamente, já não me lembro mais...


Rita de Cássia Leonel Moura.

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