terça-feira, 29 de março de 2011

Capítulo 15 - Em busca da felicidade

Pela primeira vez, depois de muitos anos, acordei feliz. O sol estava brilhando, o céu estava limpo e as nuvens estavam se entrelaçando de tal forma que nem a pior coisa do mundo arruinaria essa bela manhã de sexta-feira.
Bentinho estava sentado na cabeceira da cama, me olhando. Ele parecia animado e pela sua face, já havia percebido que queria falar comigo.

-         Bom dia mamãe! – disse Bentinho.
-         Bom dia meu amor! – dei um abraço bem apertado.
-         Precisamos conversar – disse em um tom agradável e rápido.
-         Pode falar Bentinho – levantei a sobrancelha.
-         Eu conheci a mulher da minha vida. Eu a amo e quero ficar com ela para sempre. Estou apaixonado mamãe! – disse em voz baixa, cautelosa.
-         Ah, que bom meu filho. Estou muito feliz por você.
-         Então... Ela vai viajar para a Europa e vai passar uns anos por lá. Eu não posso nem pensar em perde-la. Deixe-me ir com ela mamãe, por favor – seus olhos estavam enfeitiçados.
-         Você tem certeza do que quer? Você a ama mesmo? – passei a mão pelo seu rosto.
-         Amo. Ela é tudo o que eu sempre quis – admitiu Bentinho.
-         Vá meu filho, vá ser feliz – levantei os olhos com ar de sofrimento.
-         Porque você está assim? Se quiser eu fico aqui, com você.
-         O que eu mais quero é que você seja feliz. Não perca essa oportunidade. Não deixe a pessoa que você ama partir.
-         É sério mãe?
-         Sim meu filho.
-         Eu te amo mãe.
-         Eu te amo Bentinho.


Não deixar Bentinho ir seria a maior burrice da minha vida. No mesmo instante em que meu filho pediu para ir com a menina que ama, me lembrei de José.
A nossa história era a mesma e quem sabe se eu tivesse largado tudo e ido junto com ele, a minha vida poderia ser melhor. Estaria ao seu lado nesse momento e seriamos felizes.
Bentinho vai ter a chance que eu não tive. Ele vai ser um homem feliz, ao lado de quem realmente ama.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Vida corrompida: Você no amanhã


Olá querido leitor, hoje postarei uma matéria que fiz para o grupo de "Educomunicação" ( Jornal da Escola) do Colégio Marupiara. A matéria é sobre uma visita que nós, alunos do terceiro ano do Ensino Médio, fizemos ao Instituto "São Sebastião", juntamente à professora Cíntia, representante do Núcleo de Ação Social do colégio. Espero que gostem :)

  ...
A velhice é um processo pessoal, natural, indiscutível e inevitável para qualquer ser humano na evolução da vida. Nessa fase são visíveis as mudanças que ocorrem na vida de um idoso, sejam elas biológicas, fisiológicas ou psicológicas.
Já não existem dúvidas do quanto um idoso se sente sozinho, diferente e carente, como se o próprio mundo havia esquecido da sua existência.
Na última segunda-feira, quatorze de março de dois mil e onze, nós, alunos do terceiro ano e os alunos Priscila e Victor do segundo ano do Ensino Médio do colégio Marupiara, fomos ao instituto “São Sebastião” acompanhados pelos professores Cíntia e Mário, representantes do Núcleo Social e Educomunicação, respectivamente e Amanda, de língua portuguesa.
Fomos muito bem recebidos pelos profissionais e moradores da instituição. A felicidade era extrema nos olhos de cada idoso e também dos alunos que de fato, se emocionaram facilmente ao longo da visita.
A relação social foi baseada entre amor, carinho e dedicação dos alunos para com os idosos. Muitos de nós nos relacionamos, e outros não se sentiram à vontade de tentar fazer algum tipo de aproximação. Foi uma relação constante e conseguimos preencher um espaço no nosso coração que por muito tempo estava “hibernando”, mas acordou para a vida no momento em que chegamos no asilo e observamos os olhares carinhosos de cada idoso. Esse espaço é o da solidariedade com pessoas que necessitam de um ombro amigo, já que os únicos bens duráveis e sem preço, são o afeto e a solidariedade que se sentem pelas pessoas queridas.
Conversando com os idosos, descobrimos diversas curiosidades sobre a vida de cada um: Mishael, por exemplo, nos contou o quanto adora tocar violão, Isabel mostrou todas as suas bijuterias e disse o quanto ama se maquiar, e Maria que disse ser Corinthiana roxa... “Ninguém ama mais o Timão do que eu!” – disse empolgada.
Fizemos grandes amizades que serão levadas para sempre ao longo de nossas vidas e também dentro dos nossos corações.
Cuide bem dos seus pais, avós, bisavós e amigos idosos. Pois, eles merecem e com certeza são jóias raras e únicas que nunca deixarão de brilhar e iluminar o nosso caminho. Como Franz Kafka citou: “A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”.

Em nome de todos os alunos do Ensino Médio e integrantes do núcleo de Ação Social do Colégio Marupiara, Rita de Cássia Leonel Moura – 3º ano A, Ensino Médio.

domingo, 27 de março de 2011

Capítulo 1 – Solidão

Está muito silêncio aqui. Acho até engraçado a vida monótona em que vivemos.
Chamo-me Nilza, mas todos me conhecem por vovó Nina. Pode me chamar assim, como preferir.
Estou beirando os 70 anos e pelo incrível que pareça minha história de vida não é tão amarga assim.
Aproveitei! Disso com certeza não posso reclamar. Aproveitei cada minuto da minha vida, ou grande parte dela.
É triste ficar aqui. Não me sinto livre como antes, me sinto solitária e todos os dias tento entender o porquê de estar neste lugar. Todos desamparados, sem família, menosprezados, muitos acabam até ficando loucos e dias ruins não é o que faltam para nós.
Confesso que a solidão é triste. Sinto uma profunda sensação de vazio dentro de mim, parece que está faltando algo para me completar, me fazer feliz. Pode ser a falta da minha família, ou um grande amor, quem sabe.
O que estou dizendo? Acho que estou ficando louca. Família não existe. A partir do momento que me deixaram aqui, sozinha, jurei nunca mais me lembrar deles.
O amor que dei para aquelas crianças é inimaginável. Mesmo não tendo muito dinheiro nem um bom lugar para morar, dei de tudo para meus filhos, nunca os deixei na mão, ensinei o abecedário, dei amor, carinho, e vejam só, hoje me trocaram pela vida material.
Neste momento, estou sentada em um banquinho de pedra, admirando as flores do jardim, as borboletas voando e os passarinhos cantando nessa bela manhã de sábado. Hoje é dia de visita e muitas crianças estão felizes, pulando nos colos de seus avôs. É incrível como um simples sorriso pode mudar o dia de uma pessoa para melhor. Às vezes me pego com as lágrimas escorrendo sob meu rosto, mas creio que um dia meus netinhos virão me visitar, irão dizer o quanto sentem minha falta e sorrirão pra mim, terminando em um forte abraço fraternal.
Não gosto muito de me socializar com as pessoas que vivem aqui comigo. Muitas nem vão entender o que estarei dizendo, outras são frias e algumas parecem que voltaram ao tempo e viraram crianças novamente.
A cada dia que passa, percebo que definitivamente o meu lugar não é aqui. Acho que foi o destino que me mandou para esse lugar. Já estava escrito, só pode ser isso. Não posso reclamar, pois se era para hoje estar aqui, tenho que aguentar e aceitar que minha vida foi traçada dessa maneira.
Cruel solidão! Ela vai me pegando aos poucos, vai me conduzindo e logo menos me prende junto a ela. Não gosto disso, ás vezes é bom ficarmos sozinhos, mas vivermos constantemente esse momento não dá, pois a solidão é um lugar bom de visitar uma vez ou outra, mas ruim de adota-la como morada. E lembre-se acima de tudo: “A solidão é impossível, e a sociedade, é fatal”.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Vida Corrompida: Morrendo, Renascendo, Recomeçando...

Paro. Penso. Respiro. Suspiro, suspiro, suspiro...
Já parou para pensar no quanto é ruim se sentir sozinha e sem ninguém ao seu lado? Como se o mundo nem se quer lembrasse da sua existência? É assim que eu me sinto.
Meu nome é Alice, tenho noventa e oito anos, moro neste asilo há dez e já fazem cinco que não ando mais. Preciso de ajuda.
Por um tempo acreditei estar curada, mas esta doença está acabando comigo a cada dia que passa e agora, sou uma velha sozinha, desorientada, deitada nessa cama e sem um ombro amigo para poder desabafar.
Minhas lembranças, com o tempo já se foram, já não me resta nada, apenas o medo que se passa pela minha mente confusa.
Sinto medo dos seus passos, sinto medo do seu abraço, sinto medo do seu sorriso que se corrói por dentro dos meus olhos. E na verdade, não sei se ele é verdadeiro.
Medo da minha vida, da sociedade corrompida e da morte me chamando timidamente para um lugar melhor.
Dos pássaros voando, das flores se abrindo, do sol se revelando e dos pingos de chuva que estão caindo.
Sinto medo da pessoa que sou, da pessoa que você se tornou e da sociedade que nem se lembra mais de mim.
Estou morrendo a cada milésimo de segundo. É como se fosse nascer novamente e tentar um grande recomeço... Pobre recomeço! Depois de cinco minutos, morri novamente.
Recomeçar para mim, já não faz sentido. Sinto-me com a ingenuidade de uma criança, doce e esperançosa. A quem estou querendo enganar? Já não sou criança e a minha ingenuidade se perdeu junto ás minhas lembranças.
Estou com medo, estou em pânico, estou suando, estou morrendo, estou morrendo, e-s-t-o-u  m-o-r-r-e-n-d-o... Estou morr...
Mas antes do esperado acontecer, preciso lhe contar: "O medo derrota mais pessoas que qualquer coisa no mundo". Pois é leitor amigo, terei que enfrentar...


Rita de Cássia Leonel Moura.

sábado, 12 de março de 2011

Poema do Idoso



Se meu andar é hesitante
e minhas mãos trêmulas, ampare-me.
Se minha audição não é boa, e tenho de me
esforçar para ouvir o que você
está dizendo, procure entender-me.
Se minha visão é imperfeita
e o meu entendimento escasso,
ajude-me com paciência.
Se minha mão treme e derrubo comida
na mesa ou no chão, por favor,
não se irrite, tentei fazer o que pude.
Se você me encontrar na rua,
não faça de conta que não me viu.
Pare para conversar comigo. Sinto-me só.
Se você, na sua sensibilidade,
me ver triste e só, simplesmente partilhe comigo um sorriso e seja solidário.
Se lhe contei pela terceira vez a mesma história num
só dia, não me repreenda, simplesmente ouça-me.
Se me comporto como criança, cerque-me de carinho.
Se estou doente e sendo um peso, não me abandone.
Se estou com medo da morte e tento negá-la,
por favor, ajude-me na preparação para o adeus.


(Autor desconhecido)


sexta-feira, 4 de março de 2011

O Velho na ambulância. (Di-Parte VI)

Olá queridos amigos, estou postando uma parte do livro que meu amigo escreveu. Espero que gostem.

[...]

Numa tarde qualquer da semana encontrei um senhor de idade, amigo meu, ele era casado e me contou algumas histórias sobre seus amores. Não me lembro dos detalhes, mas disse-me que quando jovem conheceu o que seria o amor de sua vida, porém ela se casou com outro rapaz, e nos dias, meses e anos seguintes ele acabou se casando com uma garota que ele namorava faz tempo.
Em seus dias de casado, nunca havia traído sua esposa.
Certo dia em uma de suas viagens de negócios encontrou ao acaso outra garota. Ela se insinuava. Ele a convidou para ir à praia. Ela aceitou. Um bate e volta, iriam naquela hora e eles voltariam à tarde, ela sabia que ele era casado.
Ele disse que foi um dia perfeito e com ela teve o melhor sexo de sua vida. Depois daquele dia nunca mais a viu. E depois de trinta anos ainda lembrava-se do nome dela e se perguntava como seria se os dois ficassem juntos.
Com o tempo esse senhor ficou doente, e não podia se movimentar. Teve um derrame. Sua esposa era fanática por limpeza, daquelas que vivem para manter a casa em ordem.
Em seus últimos dias de vida viveu num quarto do segundo andar da casa isolado do mundo. Sua esposa preferia a casa em ordem a ele dormindo na sala, no andar térreo da casa.
Lembro do último dia que o vi, a ambulância os vizinhos ajudando, havia sofrido muito, ele em lágrimas chamou meu nome e disse: - Gabriel, não case! Não case.

Gabriel Chiesi