domingo, 27 de março de 2011

Capítulo 1 – Solidão

Está muito silêncio aqui. Acho até engraçado a vida monótona em que vivemos.
Chamo-me Nilza, mas todos me conhecem por vovó Nina. Pode me chamar assim, como preferir.
Estou beirando os 70 anos e pelo incrível que pareça minha história de vida não é tão amarga assim.
Aproveitei! Disso com certeza não posso reclamar. Aproveitei cada minuto da minha vida, ou grande parte dela.
É triste ficar aqui. Não me sinto livre como antes, me sinto solitária e todos os dias tento entender o porquê de estar neste lugar. Todos desamparados, sem família, menosprezados, muitos acabam até ficando loucos e dias ruins não é o que faltam para nós.
Confesso que a solidão é triste. Sinto uma profunda sensação de vazio dentro de mim, parece que está faltando algo para me completar, me fazer feliz. Pode ser a falta da minha família, ou um grande amor, quem sabe.
O que estou dizendo? Acho que estou ficando louca. Família não existe. A partir do momento que me deixaram aqui, sozinha, jurei nunca mais me lembrar deles.
O amor que dei para aquelas crianças é inimaginável. Mesmo não tendo muito dinheiro nem um bom lugar para morar, dei de tudo para meus filhos, nunca os deixei na mão, ensinei o abecedário, dei amor, carinho, e vejam só, hoje me trocaram pela vida material.
Neste momento, estou sentada em um banquinho de pedra, admirando as flores do jardim, as borboletas voando e os passarinhos cantando nessa bela manhã de sábado. Hoje é dia de visita e muitas crianças estão felizes, pulando nos colos de seus avôs. É incrível como um simples sorriso pode mudar o dia de uma pessoa para melhor. Às vezes me pego com as lágrimas escorrendo sob meu rosto, mas creio que um dia meus netinhos virão me visitar, irão dizer o quanto sentem minha falta e sorrirão pra mim, terminando em um forte abraço fraternal.
Não gosto muito de me socializar com as pessoas que vivem aqui comigo. Muitas nem vão entender o que estarei dizendo, outras são frias e algumas parecem que voltaram ao tempo e viraram crianças novamente.
A cada dia que passa, percebo que definitivamente o meu lugar não é aqui. Acho que foi o destino que me mandou para esse lugar. Já estava escrito, só pode ser isso. Não posso reclamar, pois se era para hoje estar aqui, tenho que aguentar e aceitar que minha vida foi traçada dessa maneira.
Cruel solidão! Ela vai me pegando aos poucos, vai me conduzindo e logo menos me prende junto a ela. Não gosto disso, ás vezes é bom ficarmos sozinhos, mas vivermos constantemente esse momento não dá, pois a solidão é um lugar bom de visitar uma vez ou outra, mas ruim de adota-la como morada. E lembre-se acima de tudo: “A solidão é impossível, e a sociedade, é fatal”.

2 comentários:

  1. Interessante como você colocou a visão do tempo decorrido, mas fiquei pensando... Se a nina deu afeto, carinho e ensinou as coisas, o que faltou para os filhos não se tornarem uns egocêntricos. Parabéns pelo post, estou ansioso para o capitulo II :D

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  2. Ao longo da história você vai perceber que o único problema foi a convivência com o pai dos meninos, pois ele era ignorante e um dos seus filhos acabara "pegando" o seu jeito. Fico muito feliz por ter você como leitor do meu livro. Logo, postarei o segundo capítulo!

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